Quando Mahaprajapati surgiu no mundo, foi predito que ela seria uma líder comunitária. Recebeu então o nome “Prajapati”, “líder de uma assembleia”. “Maha” (grande) foi adicionado ao seu nome. Nascia Mahaprajapati.
Ela era irmã da mãe de Sidarta Gautama, a rainha Maya. A rainha morreu poucos dias após o nascimento de Sidarta Gautama. Mahaprajapati casou-se com o Rei Sudodana e coube a ela os cuidados e criação de Sidarta.
E assim ela o fez.
Sidarta cresceu e renunciou à vida palaciana, à esposa e ao pequeno filho Rahula para encontrar respostas ao mistério de vida-morte e ao sofrimento humano.
Treinou com grandes mestres, experimentou austeridades e encontrou o Caminho do Meio. Após sete dias e sete noites em zazen, Sidarta se iluminou. Nascia Buda Xaquiamuni.
Com a iluminação de Sidarta, a notícia do surgimento do Desperto chegou a todos os cantos do reino. Mahaprajapati tinha cerca de 50 anos quando ouviu os ensinamentos do filho pela primeira vez. Ela e o rei Sudodana se tornaram discípulos leigos de Buda e seguiram seus ensinamentos com muito fervor.
Com a morte do Rei Sudodana, Mahaprajapati desejou se tornar monja. A ordenação de mulheres não era permitida na sociedade indiana antiga, que impunha a elas o papel de cuidadora dos lares, não oferecendo a possibilidade de renúncia a esta função social.
A mãe de Buda solicitou três vezes ao filho que a recebesse como monja em sua sanga. Três vezes Buda declinou do pedido.
Mas Mahaprajapati não desistiu de seu objetivo…
Ela conhecia outras mulheres que, como ela, queriam ser ordenadas. Muitas delas eram viúvas e tinham perdido o sentido de identidade com a morte dos companheiros.
Mahaprajapati cortou os cabelos, colocou o manto e liderou um grupo de 500 mulheres que seguiu em procissão para implorar a Buda pela ordenação.
Desta vez, Mahaprajapati, contou com a preciosa ajuda do primo e atendente de Buda, Ananda, que resolveu interceder por ela e pelo grupo de mulheres.
Buda estava ensinando seus discípulos quando Ananda questionou o mestre sobre a verdade de que todos os seres, sem exceção, poderiam atingir a iluminação.
“Sim, Ananda, todos os seres”, respondeu Buda.
Ananda prosseguiu: “Inclusive as mulheres, Honrado pelo Mundo?”.
“Sim, certamente, Ananda. As mulheres também.”
“Então, por que Mahaprajpati não pode ser ordenada monja?”, perguntou Ananda.
Neste momento, Xaquiamuni Buda percebeu o equívoco em proibir a ordenação de mulheres.
Mahaprajapati se tornou a primeira monja histórica e exemplo de perseverança e inspiração.
Logo após sua ordenação, Mahaprajapati se iluminou. Viveu cento e vinte anos. É dito que, na hora de sua morte — e durante a cremação de seu corpo — houve milagres semelhantes aos que, mais tarde, ocorreriam no parinirvana de Buda.
(Texto de Maria Paula Myobun)