O que é o Koan?
Originalmente, koan significa ‘caso público’. Referia-se aos editais que os imperadores mandavam afixar em locais públicos na China antiga.
Depois, passou a ser uma narrativa, diálogo, questão ou afirmação que contém aspectos inacessíveis à razão.
Enunciados que os mestres zen fazem a seus discípulos para que transcendam a mente lógica e penetrem a essência dos ensinamentos.
A escola Rinzai do zen-budismo, com muitos mosteiros e templos em Quioto, no Japão, tem nos koans a base de sua prática.
Em Os três pilares do zen, Philip Kapleau define koan “como uma expressão singular de vivência do indivisível natureza-Buda que não pode ser compreendida pela bifurcação do intelecto”.
→ Como responder a esta pergunta: “Quando duas mãos batem palma temos um som. Qual é o som de uma única mão?”.
Há quem diga que os koans podem ser desnorteadores para quem aprecia mais a mente que o espírito. E de fato são. A ideia é libertar a mente das armadilhas da linguagem. Da mente que simplifica a vida olhando-a tão somente pelo viés da dualidade.
Koan para pensar fora da caixa…
Voltando ao koan sobre o som de uma única mão, nossa mestra Coen Roshi nos convida a contemplar “fora da caixa”:
“A pergunta principal é: do que estamos falando?
Do som do universo?
Do som da mão batendo os dedos?
Que mão é essa e que som é esse?
Há praticantes que levam sete anos para responder a essa pergunta. Cabe ao mestre decidir quando realmente compreenderam e quando estão apenas nas cercanias do real”.
Enquanto o mestre não certifica o entendimento do discípulo, este deve fazer do koan “seu mantra diário”.
Dito de outra forma. Contemplar o koan antes, durante e após o zazen diário, por exemplo.
Fazê-lo reverberar internamente enquanto lava louça, envia um e-mail, ao deitar a cabeça no travesseiro e sonhar o sonho da noite.
Como vimos, o objetivo do koan é fechar as portas da racionalização.
Ao fechar esta porta, uma janela se abre. Para o conhecimento da Verdade, da essência do ser. Os mestres zen acreditam que há zonas desconhecidas de nossa mente, jamais acessadas pelo intelecto.
Mas esta viagem precisa ser feita com a ajuda de um amigo espiritual, um mestre qualificado, que saberá o momento e o koan adequado para cada estágio de nossa caminhada.
O professor então perguntará o entendimento do aluno sobre o koan. Mais que isso. Na verdade, pedirá que “mostre” esta compreensão… Wow.
Neste momento, chamo D. T. Suzuki para explicar o que vem pela frente:
“Depois de apresentar seu ponto de vista em entrevistas com o mestre, o que é tecnicamente chamado de sanzen, você certamente chegará ao limite de seus recursos, e chegar a este beco sem saída é realmente o verdadeiro ponto de partida no estudo do zen.”
E aí, pronto e pronta para saltar no abismo?
Texto de Maria Paula Myobun
Referências
Uma introdução ao zen-budismo – D.T Suzuki
Os três pilares do zen – Philip Kapleau
Sabedoria da transformação – Monja Coen Roshi
108 contos e parábolas orientais – Monja Coen Roshi