O bambu na cultura japonesa

Ele enverga, mas não quebra… 🎋

A flexibilidade do bambu é um dos muitos aspectos relacionados a esta planta, que conta com pelo menos 1.250 diferentes espécies habitando quase todos os continentes.

O bambu guarda vários significados e simbologias na cultura japonesa. Para além de seu uso mundano, ele é visto por muitos como um espírito da natureza. Sua forma expõe contrastes entre o caule fibroso e o oco interior.

Sob as lentes do zen, o vácuo interno do bambu pode ser contemplado como “o vazio que tudo abarca”. Vazio pleno de possibilidades, que se abre à prática da plena presença e mente atenta.

Nos templos budistas e xintoístas, o bambu se entrelaça em barreiras de proteção contra o mal e energias negativas. Sua forma de crescimento envolve um ideal coletivo, que pode ser espelhado no comportamento humano solidário: juntos e comprometidos, nos tornamos mais fortes.

Fora dos templos, ele é usado na construção civil devido à beleza e resistência. Da arquitetura à decoração de ambientes, muitas formas e objetos têm no bambu sua matriz de criação.

Quem nunca molhou as pontas dos dedos nas tradicionais fontes de bambus? Há quem ainda mantenha uma legítima tsukubai no quarto para garantir uma noite de sono tranquilo…

Voltando ao zen

O bambu marca presença na Cerimônia do Chá, tradição importada da China pelos japoneses no século IX. Com muito sucesso, ou não seria o chá a bebida mais consumida no Japão. É dito que os mestres do chá chineses confeccionavam em bambu os utensílios de que precisavam para o ritual do chá, como a concha (hishaku), o batedor de chá (chasen) e a espátula medidora (chashaku).

Os saborosos brotos de bambu (takenoko) são parte da culinária japonesa, consumidos principalmente nas cerimônias de final de ano para atrair sorte, fertilidade e prosperidade.

Ao contemplar a natureza, o homem descobriu que o sopro do vento no orifício do bambu criava uma singela melodia. Assim, muitos instrumentos de sopro foram construídos, entre eles, a shakuhachi japonesa.

Durante a cerimônia de Combate do Darma, o praticante zen recebe do mestre uma espada de bambu (shippei), com a qual se compromete a cortar o falso, o pensamento dualista, o irreal, a delusão.

Tanto monásticos quanto praticantes leigos podem participar deste ritual em forma de debate. O aluno é desafiado a responder questões que testarão seu conhecimento sobre o Darma, frente a uma assembleia de mestres, monges e praticantes preceitados.

O budismo japonês é a única escola em que a união entre monges e monjas é permitida. O casamento em frente a Buda resgata a combinação auspiciosa do sho chiku bai (pinheiro, bambu e ameixeira).

Durante a cerimônia, os cônjuges leem em voz alta os votos de casamentos redigidos por eles. Em frente a Buda e ao mestre responsável pela cerimônia, solicitam aos seres iluminados para que seus votos sejam realizados. Em seguida, fazem um brinde com três tacinhas pequeninas que estampam a imagem do pinheiro, bambu e ameixeira.

O pinheiro simboliza a longevidade. Suas folhas se mantêm verdes durante todo o ano. Assim também deverá ser a relação do casal, longeva e impregnada do frescor das folhas do pinheiro.

A característica flexível do bambu também é um voto ao equilíbrio da vida a dois. Que os cônjuges possam ser flexíveis e tolerantes entre si. Por fim, a flor da ameixeira branca simboliza a força e a resiliência diante de grandes desafios.

Mestre Eihei Dogen, fundador da escola Soto Shu, dizia que “o desabrochar da flor da ameixeira é a primavera”. Ele estava chamando nossa atenção para a inexistência de uma separação entre a flor e a chegada da estação. A flor e a estação não são eventos distintos.

A simbologia do bambu traz ainda outros aspectos, como o respeito à ancestralidade e a evolução gradual do caminho espiritual. Antes de rasgar a terra, a semente do bambu pode levar cinco anos para gerar os primeiros brotos. Contemplar a exuberante flor do bambu é espetáculo raro e para poucos, uma vez que ela surge a cada 150 anos.

Assim é o nosso crescimento espiritual: gradual e perseverante. E com esforço, as flores e frutos poderão surgir.

(Texto de Maria Paula Myobun)

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